Os 100 anos da criadora do evento e a perda do agitador cultural serão lembrados nesta edição do festival de teatro mais antigo do País
O mais tradicional festival de teatro do Brasil vai celebrar sua 52ª edição exaltando dois grandes nomes das artes cênicas e da cultura em geral. É o Festival Santista de Teatro, o FESTA 52 - "100 Pagu, sem Toninho", que do dia 1º ao dia 12 de setembro vai trazer o melhor do teatro da região, em espetáculos gratuitos.
A abertura do festival acontece de forma inédita: uma grande missa será celebrada dentro da Cadeia Velha, a partir das 19h30 de quarta-feira, dia 1º. A intenção deste ato é resgatar e enaltecer a memória dos agitadores culturais Patrícia Galvão e Toninho Dantas, que tiveram uma história intimamente ligada ao FESTA, e em toda sua trajetória não mediram esforços para tornarem real tudo que acreditavam. "Foram duas pessoas que contribuíram muito para a cultura de Santos e do Brasil, enfrentando diversos interesses para deixarem o legado que ficou. Isso tudo é um incentivo enorme para fazermos esta edição do FESTA", afirma Ana Paula Silva, integrante da Comissão Organizadora do FESTA 52. Após a missa será encenada a peça Absurdamente Pagu, do Grupo Tescom, no Teatro Guarany.
Neste ano, o cenário teatral santista ganhou mais um importante evento, por coincidência na mesma época que o FESTA. O Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos (Mirada), promovido pelo Sesc, vem se integrar aos outros festivais da cidade, reforçando a vocação de cidade como um dos principais polos irradiadores de cultura do País. "O festival está abrindo as portas para o Mirada, e essa variedade mostra a vanguarda de Santos na dramaturgia, característica que teve início com o movimento do teatro amador, e a criação do próprio FESTA, em 1958, pela Pagu", lembra o produtor Leandro Taveira, também da Comissão do festival.
Outra novidade deste ano é a "Sessão Maldita": durante o festival, quatro peças serão encenadas à meia-noite, no teatro do Tescom, no Macuco. O bairro também tem uma íntima ligação com a história do teatro nacional. Foi no Macuco onde nasceu e cresceu o dramaturgo Plínio Marcos, outra figura emblemática e "maldita" da cultura santista, que ajudou a impulsionar a criação do FESTA, e cuja obra ganhou reconhecimento em todo o Brasil.
A programação do FESTA 52 também vai contar com apresentação de peças infantis no Centro de Juventude da Zona Noroeste (Rádio Clube), e espetáculos de rua na Praça Mauá (Centro). Como conta a atriz e membro da organização, Kátia Baliano, "é mais de meio século de um festival muito importante para a região. Grandes nomes foram revelados nos nossos palcos, e esse renascimento constante é o que buscamos".
História
O FESTA é o mais antigo festival teatral do Brasil. Foi criado em 1958, pela musa do modernismo brasileiro, a jornalista Patrícia Galvão (Pagu), tendo o apoio do teatrólogo Paschoal Carlos Magno e o dramaturgo Plínio Marcos, batizado de Festival Santista de Teatro Amador. Em seus mais de 50 anos de história, o festival revelou e consolidou importantes nomes das artes cênicas, como Serafim Gonzalez, Sérgio e Cláudio Mamberti, Neyde Veneziano, Aracy Balabanian, Ney Latorraca, Zé Celso Martinez, Tanah Corrêa, Carlos Alberto Soffredini, Bete Mendes, Alexandre Borges, entre outros. Em 2009, passa a se chamar Festival Santista de Teatro, deixando de abranger apenas os grupos amadores. Calcula-se que, desde seu início, cerca de 5 mil grupos tenham participado do festival. O FESTA integra ainda os Calendário Oficial de Santos, o Circuito Turístico da Costa da Mata Atlântica e também o Calendário Oficial de Eventos do Estado de São Paulo.
O festival é uma realização da Comissão FESTA, e tem como parceiros Associação dos Artistas, Prefeitura de Santos e Tescom. Apoio: Sesc-Santos, Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, Governo do Estado, Via Arte Produções, Pizzaria Kokimbos, Zanthus e Costa da Mata Atlântica.
Os homenageados
Pagu
Natural de São João da Boa Vista, Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) foi escritora e jornalista. Teve forte influência no movimento modernista brasileiro, entre artistas como Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Raul Bopp e Oswald de Andrade, com quem se casou e teve seu primeiro filho, Rudá. Também teve forte ativismo político: então filiada ao Partido Comunista, foi a primeira mulher presa por motivações políticas, quando participou da organização de uma greve de estivadores em Santos, no governo de Getúlio Vargas. Foi presa diversas vezes, sendo inclusive torturada, e tornou-se um dos ícones da luta feminista.
Seu segundo casamento foi com Geraldo Ferraz, com quem teve Geraldo Galvão Ferraz. Nos anos 40, se dedicou ao teatro de vanguarda, exercendo forte efervescência cultural em Santos, principalmente no incentivo a grupos amadores. Em 1958, cria o Festival Santista de Teatro Amador, com o objetivo de impulsionar a criação regional nas artes cênicas. Morre por complicações de um câncer, em Santos, cidade onde teve maior influência, e onde passou maior parte de sua vida.
Toninho Dantas
Nascido no Itapema, em Vicente de Carvalho, Antonio Carlos Dantas (1948-2010) foi uma figura da Baixada Santista. Quando pequeno morou no Casqueiro, em Cubatão, e sempre visitava os avós em Santos. Era filho de pais nordestinos e analfabetos, que em sua criação enfatizaram a importância dos estudos. Passou a fazer teatro na adolescência, cursou a Escola de Arte Dramática da USP, e participou de vários espetáculos teatrais. Trabalhou na tevê e fez cinema na Boca do Lixo, em São Paulo. De volta ao teatro, percorreu o Brasil inteiro com a peça "Revista do Henfil", que fazia crítica em plena ditadura militar, sendo preso em Porto Alegre. Em Santos, produziu duas edições do Festival de Música Popular Brasileira (Festhamar), foi coordenador durante cinco edições do FESTA, e criou o Festival Curta Santos, o maior festival de cinema da Baixada Santista, que reúne curta-metragens produzidos em todo o Brasil. Considerado um dos maiores agitadores culturais do Brasil, Toninho faleceu em 14 de maio deste ano.
Programação
Dia 1º de setembro (quarta)
19h30 - Oficina Cultural Pagu (Cadeia Velha) - Praça dos Andradas
Missa em memória de Pagu e Toninho Dantas
20h30 - Teatro Guarany - Praça dos Andradas, 100
Cerimônia de Abertura
"Absurdamente Pagu" - Grupo Tescom
Dia 02 de setembro (quinta)
12 horas - Praça Mauá - Centro
"Traços & Troças – Elogio à Folia" - Grupo Orgone
Dia 03 de setembro (sexta)
16 horas - Praça Mauá - Centro
"Terra Papagalli" - Trupe Olho da Rua
Dia 04 de setembro (sábado)
20 horas - Teatro Municipal Brás Cubas - Av. Pinheiro Machado, 48 - Vila Mathias
"O que Terá Acontecido a Rosemary?" - Casa3deArtes
Dia 05 de setembro (domingo)
0 hora - TESCOM - Av. Cons. Rodrigues Alves, 195 - Macuco
"Amor por Anexins" - Temetal
Dia 08 de setembro (quarta)
0 hora - TESCOM - Av. Cons. Rodrigues Alves, 195 - Macuco
"O Causo do Sequestro do Carbono" - Teatro Widia
Dia 09 de setembro (quinta)16 horas - Centro da Juventude da Zona Noroeste - Rua Brig. Faria Lima, s/n - Rádio Clube
Espetáculo infantil "Belém, Belém, Nunca Mais Fico de Bem" - Coisas de Teatro Cia de Arte
Dia 10 de setembro (sexta)
16 horas - Centro da Juventude da Zona Noroeste - Rua Brig. Faria Lima, s/n - Rádio Clube
Espetáculo infantil "Ploc, a Borboleta Mais Linda que Eu Já Vi" - Temetal
Dia 10 de setembro (sexta)
0 hora - TESCOM - Av. Cons. Rodrigues Alves, 195 - Macuco
"Meu Cumpadi Severino" - Cia. de Teatro Pão Caseiro
Dia 11 de setembro (sábado)
0 hora - TESCOM - Av. Cons. Rodrigues Alves, 195 - Macuco
"Fontainebleu" - Cia Tan-Tan
Dia 12 de setembro (domingo)
21 horas - Teatro Guarany
"Olhos de Fazer Morder" - Teatro Experimental de Pesquisas (TEP) - Unisanta