sábado, 12 de junho de 2010

A respeito de um amigo!

Para me despedir dessa Comissão, segue o texto da Miriam Vieira sobre o grande Toinho Dantas, que deixa saudades ainda hoje, obrigado Toninho!


Roberto Neto.


A respeito de um amigo
Parte I



- Bom dia flor do dia...Hoje o sol nem saiu com vergonha da sua formosura. Vamos na Dilaita? Vou eu, a Abigail, a Nic, a Aurélia, a Eloá e a Sandy Renata.
- Me conta...
- Fraca News informa em edição extra sua ordinária.

Toninho era uma daquelas pessoas em que se é bom até ser inimigo. Era diferente discutir com ele tinha sustança nas discussões, 'feedback'. Na verdade sempre acrescentava. Mas a gente se divertia até discutindo, fazendo projetos ou discutindo propostas. Tínhamos o hábito de dar nome as coisas e as pessoas criando assim uma espécie de código, então ele era a “Enorme” e eu aquela “Neguinha” ou “Aquela Uma”.

- Ta fazendo pudinho ou quindinho?

E sempre ficávamos ao telefone horas discutindo sobre política, assuntos do cotidiano, cultura, artes, futebol ou simplesmente sobre uma receita de mamão vidrado. Enfim, éramos amigos íntimos ou às vezes inimigos cortes.

- Fez arroz doce para o negão?
- Esta casa ta parecendo a festa do casamento da Noca! Ninguém faz nada!
- Vamos no canjerê?


Tenho que falar aqui do filho que foi, pois eu era uma das poucas pessoas a frenquentar sua casa e acompanhei desde os anos oitenta a sua dedicação, respeito, amor e afeto com seus pais a sua luta para que eles mesmos enfermos tivessem uma velhice digna, e isto ele considerava sua maior obra, sua maior obrigação. Nunca vi em toda minha vida um filho tão dedicado e tão apaixonado pelos pais como o Toninho.
- Gente tem reunião. vai ser no Escritório ou na Dona Maria?

- Minina quebrei um pau com o Fêssego!

Era um apaixonado pelas artes e pelo pensamento. Quando deixou de atuar porque perdeu a parcialmente audição voltou para Santos. Estabeleceu então um forte vínculo com a militância cultural: dirigiu teatro, documentou o carnaval, coordenou os festivais de música e teatro, e inventou o CurtaSantos.
Trabalhou muito pela Cultura. Foi um militante e tanto.

- Oi movimento!
- É a Celga é a Celga. Uma Celga contente!

Penso que muita gente que tem uma atitude cultural ou política nesta cidade tem alguma história para contar do Toninho. Era um homossexual assumido e não são poucas as histórias que sabemos e vivenciamos sobre sua atitude anti homofôbica. Vários de nossos amigos foram vítimas de assassinatos ou agressões. E ele sempre estava na linha de frente com a sua indignação para defender os direitos de todos.

- Minina, este ano não danço quadrilha, nem tomo quentão... To tão fraca! Tira o pretinho básico do guarda roupa que eu acho que tu vai ter evento para usar. To indo hein! Adeus Elisabeth...

Foi o que ele me disse na noite de 12 de maio. E foi assim que ele se foi, fazendo graça. Sei que sem o Toninho a cultura em nossa região jamais será a mesma, aliás as piadas jamais serão as mesmas. A Dilaita então, nem se fala! Foi embora antes do combinado.
Ficamos devendo a cena da “Morte da Enorme”, mas não foi por falta de vontade de fazer, e sim porque muita gente presente não ia gostar.
Parece até que ouço:

- Não fizeram porque são fracas!

Miriam Vieira
Outono de 2010.